Tenho pensado cada vez mais em como há sempre dois jeitos de levar a vida. Dá pra ser negativa e pesada a respeito de tudo, ou dá pra enxergar as experiências com um olhar mais leve (e talvez aventureiro?).

Vocês sabem: tudo pra mim agora é novo e depois de tanto tempo vendo e vivendo a vida de um jeito, parece que eu estava em um planeta antes, e agora estou em outro.

Fui assistir “Room” (“O Quarto de Jack”) com o Lucas na sexta-feira (assistam, sério! Levem lencinhos, mas não deixem de ver), e depois de acabar não conseguia não pensar em como eu podia viver mais como Jack.

O mundo é novo – Como se decidir?

Eu não vou falar muito porque tudo pode ser um spoiler, mas ele fala assim numa hora “Há tantas coisas aí fora. E algumas vezes é assustador. Mas tudo bem. Porque nós ainda somos só eu e você”.

No caso, quando penso em estabilidade na minha vida, a única coisa na qual consigo me agarrar são nos meus amigos. São eles o “somos só eu e você” da minha vida, enquanto todo o resto está… diferente.

E é exatamente isso: há tantas coisas aqui fora. E às vezes é assustador. Muitas vezes é assustador.
Nessas horas, em que é mais assustador, é que tenho que pensar qual a maneira que quero encarar essa minha nova vida. Porque às vezes é muito mais fácil eu me enrolar no meu casulo e ficar apegada a tudo aquilo que eu já conhecia, sem coragem, paciência ou iniciativa de viver outras coisas.
Eu conheço meus amigos, eu conheço minha casa, eu conheço meus roomies.

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E eu amo tudo isso. E como é sedutor querer me apegar a isso e a apenas isso.

Teve um dia desses em que eu estava me arrumando pra sair de casa, viver uma dessas novas experiências, e me deu muito medo. Seguido de uma preguiça gigantesca. E eu fiquei me perguntando: “eu preciso mesmo fazer isso? Eu já tenho uma vida que eu gosto tanto…”. Lembro que foi um dia depois de ter saído com um grupo de amigos que sempre faz eu me sentir muito feliz e acolhida e abraçada, e questionei a necessidade de fazer algo que eu sabia que não me causaria, necessariamente, essa felicidade de cara.

E que na real estava me causando um sentimento que eu não estava acostumada e não gostava muito.

Sim, é sedutor querer me envolver só daquilo que eu já amo.

Tudo é tão conhecido, e quentinho, e gostoso, e… simples.

Nossa como é fácil deixar minha mente pegar esse caminho da simplicidade. Daí tudo acontece muito rápido e eu raciocino que no fim não preciso de nada novo, que tô ótima assim, que vai ser uma perda de tempo e que nada vai ser tão legal quanto o que eu já tenho e eu só vou ficar constrangida, com preguiça, com bode e melhor eu ficar em casa mesmo, né?

Não sei contar pra vocês quantas vezes eu pensei assim. E em algumas eu realmente acreditei e deixei minha mente me convencer de que não há nada de novo que vá me deixar tão excitada com a vida quanto o que eu já conheço. E deixei de viver coisas.
Mas isso está errado.

E nisso eu me vi demais no garotinho Jack, do filme. Ele tem curiosidade. Mas é assustador. Principalmente quando tudo o que você conheceu e viveu antes foi tão maravilhosamente especial. Quando a pessoa que estava ao seu lado tornou tudo tão legal -colocando a barra de expectativas muito acima da média, inclusive.

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A mãe de Jack fez do mundo que ele conhecia algo incrível. Especial, acolhedor, seguro.
Eu vivi durante muitos anos da minha vida em um mundo assim. E eu sentia que enquanto boa parte do mundo via a vida desbotada, eu via tudo com cores vibrantes, gritantes, saturadas.

Mas agora, a cada vez que eu deixava meu cérebro me convencer de que a melhor coisa que eu podia fazer pra mim era ficar em casa, com tudo o que eu já conhecia, minha vida desbotava um pouco mais. Perdia um pouco do brilho. Um pouco das cores. E ia se tornando um retrato esmaecido de alguém que eu já fui um dia, mas não sou mais.

Não.
Eu tenho que me esforçar -e às vezes, me forçar- pra não pegar o atalho. O caminho mais fácil, ainda que conhecido. Esse eu já sei pra onde leva. E é bom, sim. Mas sempre vai estar lá. Eu preciso é pegar o caminho que me leva ao desconhecido. Ao novo. A novas experiências.

É bizarro, porque na entrada desse caminho não há nada que me encoraje a pegá-lo. É escuro, é frio, é até meio feio e às árvores são retorcidas e o vento faz aquele barulho que dá medo. Mas eu pego. E conforme eu vou andando, confiante, sem deixar o pânico me fazer voltar correndo, eu vou vendo uma luz. Fraquinha no começo.

Depois mais forte.

E o vento para de fazer barulhos estranhos. E ao invés de frio, eu começo a sentir um calorzinho diferente. E vou descobrindo um mundo totalmente cru, bruto, mas ali, pronto pra ser explorado. Que me faz sentir coisas que nunca senti antes, e faz meu coração dar pulinhos e minha pele ficar arrepiada. Não há nada familiar nesse novo mundo. Mas ainda assim, é lindo.

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“Você vai amar”, diz Ma ao Jack.
“O quê?”, ele pergunta.
“O mundo”.